Franciscanismo


SÃO DAMIÃO



São Damião era um lugar de abrigo para os peregrinos que rumavam a Roma, a Santiago etc. a fim de cumprirem com seus votos e promessas. Sempre foi lugar de acolhimento. Sempre foi um lugar pobre. Lugar de abrigo de leprosos. Naquele tempo ser leproso era ser completamente banido da convivência com os demais. Nem os soros positivos da atualidade passam por uma experiência semelhante àquela vivida pelos leprosos da época de Francisco. Foram esses os escolhidos de Francisco: “O Senhor me conduziu para o meio dos leprosos e fiz misericórdia com eles” Relembra Francisco aos frades em seu Testamento. Foi construído com as pedras do riacho que corre próximo dele. Passou por poucas reformas ao longo de sua existência. Foi o lugar que acolheu Francisco depois que abandonou tudo, inclusive seus direitos de filho quando despediu-se na praça da comuna de Assis.
Dizem com certo sarcasmo que Francisco foi pior pedreiro que São Damião teve. Mas não existe outro que reconstruiu aquele lugar como ele.

  1. Lugar que nos convida a restaurar (LTC 5; 2 Cel 10; LM 2,1);

  1. Lugar para esconder-se e repensar (1 Cel 8-10);

  1. Imagem básico da construção de nossos projetos (2 Cel 11; LTC 24; AP 8)











FREI PIO DE PIETRELCINA: HOMEM MARCADO PELO AMOR



Sinal de permanência da profecia          

           
            O estigma representa um dom carismático que Deus outorga a sua Igreja na pessoa de seus filhos. Assim, como Francisco, Pio recebeu de Deus esse dom, o qual representa dois aspectos: o primeiro diz que o testemunho profético, na Igreja, nunca falhou e jamais falhará; o segundo, evidencia um característica antropológica básica, qual seja a de que conversão como abandono nas mãos de Deus produz efeitos indeléveis no convertido, o qual rege a sua experiência de vida segundo esse principio hermenêutico.  

            Há uma condição para aquele que interpreta os estigmas como dom profético, ou seja, confessa, tacitamente, que “Deus fala na história mantendo unidos palavra e sinal” (p.13). Sendo assim, já faz face às objeções de cunho kantiana e demais epígonos. Com efeito, a razão kantiana, ou seja, a razão pratica é aquela que se ocupa dessas questões, pois existem coisas que não podem ser conhecidas, mas disso não se segue que não possam ser pensadas. Ora, tais coisas referem a essas realidades que transcendem os limites de uma mera experiencia sensível.


Sem São Francisco de Assis, não existe Padre Pio

            Qual analogia seria correta para aproximar duas pessoas que viveram em épocas bastantes díspares entre si e que possuem algo de extraordinário em suas experiências de fé, os estigmas? Por um lado, buscando a relação entre doença e santidade e, por outro lado, a imensa sensibilidade que caracteriza a ambos. Com efeito, a ciência psiquiátrica concorda que os estigmas são uma singular linguagem do corpo, pois “os estigmas não eram simulações meditadas para trazer engano, nem doenças que pressupõem causas, mas formas primitivas de comunicação em quem não possui formas mais evoluídas” (Umberto Galimberti). Essa é uma resposta interessante e plaussível, mas que nao responde de todo a qualidade de uma vida completamente entregue a Deus e ao próximo assim como foi a vida de Francisco de Assis e, séculos depois, Frei Pio de Pietrelcina, herdeiro espiritual de Francisco de Assis.

            A razão maior para se estabelecer uma analogia é por meio da sensibilidade. É sabido que Francisco de Assis deixou marcas indeléveis na religiosidade de seu tempo, pois marcou cada celebração que vivia com uma intensa sensibilidade a ponto de vivificar cada uma delas. Esses episódios se encontram exarados nas mais belas páginas de espiritualidade franciscana. Com padre Pio algo semelhante também aconteceu. Pois, entre os seus biógrafos é frequente a descrição de sua piedade ao celebrar o mistério eucarístico, piedade essa que o comovia até as lágrimas. Outra característica que se sobressai da sensibilidade de ambos é o pudor e a discrição com que tratavam dos estigmas: ambos os escondiam para não ser revelado o segredo do grande Rei.

            Uma conseqüência importante para quem interpreta os estigmas de padre Pio em analogia aos de Francisco de Assis, além de um dom profético que Deus prodigaliza à sua Igreja, é a de que cada batizado traz impresso em si as marcas de Cristo e, nesse sentido, a tarefa inalienável de cada um é fazê-las emergirem, pois cada um recebe o dom do Espírito para o bem de todos.