quinta-feira, 30 de junho de 2011

PSICOLOGIA DIFERENCIAL NA VIDA RELIGIOSA

           
Para se ter uma noção clara a respeito da diferenças, mais precisamente, da marcação incisiva das diferenças, é necessário levantar, ainda que sumariamente, as nuanças históricas que possibilitaram a emergência da consciência individual e, além disso, individualizante tão em voga na contemporaneidade. Por esse motivo se percorrerá duas vias de acesso que se complementam, quais sejam a modernidade e a pós-modernidade.
Com o advento da modernidade, a qual se consolidou por meio de um confronto critico com a medievalidade e, consequentemente, um afastamento da estrutura cultural existente na Idade Média, surge a subjetividade. E, com ela, a consciência da individualidade. Outro fator condicionante é o surgimento das ciências particulares embasadas na metodologia cartersiana. Ora, a particularização das ciências trouxe consigo a noção segundo a qual o individual é inesgotável e que, em virtude disso, precisa ser almejado segundo uma metodologia que lhe extrai o sentido oculto. Quanto à questão político-cultural que marca, decisivamente, o cenário cultural do ocidente não resta dúvida de que a Revolução Francesca (1789), capitaneada por suas prerrogativas basilares de liberdade, igualdade e fraternidade, vão configurar política e legalmente a individualidade. A conseqüência mais imediata disso foi o surgimento dos estados nacionais fortemente marcados por uma identidade própria – aqueles que não tinham trataram de buscar consolidar uma. Com efeito, a exacerbação dessa identidade nacional de um povo gera a intolerância, como é o caso do nazismo na Alemanha. Portanto, a fraqueza da individualidade é a sua exacerbação cuja conseqüência, em nível identitário nacional, é a intolerância a outras identidades nacionais, as quais são tidas como inferiores.
A pós-modernidade é marcada pela excedência daquilo que caracterizava a modernidade. Por um lado, elevando às últimas conseqüências aquelas prerrogativas políticas conquistas na Revolução Francesa, não é estranho o movimento de “revoluções” ocorrido nos anos de 1960 cuja principal reivindicação era uma maior participação nas decisões da sociedade, uma vez que essas marcam o futuro de toda uma sociedade. Por outro lado, essa mesma sociedade que reclama maior participação política é marcada por uma liquidez nas relações entretecidas no corpo social culminando numa sociedade relativista, hedonista, cética e cínica.[1]
A liquidez que caracteriza a pós-modernidade é regida por uma sociedade interconectada, interrelacionada em nível mundial. Portanto, é a primeira sociedade universal da história.
A ideia de uma ‘psicologia diferencial’ se insere nesse contexto de fluidez característico da contemporaneidade. Com efeito, a estrutura conceitual da qual ela provém é a teoria da identidade pessoal do indivíduo moderno. Teoria essa que começou a ser gestada já na modernidade e que ganhou status de independência filosófica nos pensadores da diferença.
Todavia, a base conceitual da psicologia diferencial ligada à vida religiosa, ou mais precisamente, na vida religiosa é oriunda da sociologia. Conforme E. Costels existem três tipos de identidade – todas são construídas histórica e culturalmente – a legimante e legitimadora, de resistência e de projeto. A vida religiosa, em virtude de sua longa tradição intra e extra bíblica, se insere no terceiro tipo.  
A proposta da psicologia diferencial na vida religiosa é justamente oferecer um cálculo otimal do sujeito pelo sujeito dentro da vida religiosa de modo que ambos possam obter êxito na consolidação do projeto que caracteriza a família religiosa da qual faz parte. Ora, tal proposta só é passível de realização porque a estrutura identitária dentro da qual se movem os sujeitos (membros de uma família religiosa) é constitutiva de sentido e de significado histórico, uma vez que estão estribados num carisma fundante.



[1] Do grego Kyon- cão significa, antes de mais nada, uma vida modelada segundo o modelo animalesco. Cf VAZ, Henrique C. de Lima. Escritos de Filosofia iii. Loyola, p. 103

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